Gelo marinho antártico prevê aquecimento acelerado do oceano
Cientistas identificaram a extensão do gelo marinho antártico como um preditor confiável das tendências de aquecimento do oceano com até um ano de antecedência. Esta descoberta destaca as dinâmicas interconectadas entre o gelo polar e as temperaturas oceânicas globais. A descoberta pode melhorar os modelos de previsão climática.
Um novo estudo revela que a extensão do gelo marinho ao redor da Antártica serve como um sinal de alerta precoce para o aquecimento acelerado no Oceano Austral. Pesquisadores analisaram dados de satélite e observações oceânicas de 1980 a 2020, encontrando uma forte correlação entre a baixa cobertura de gelo marinho em um ano e o aumento da absorção de calor oceânico no ano seguinte.
A autora principal, Nicole Lovenduski, da Universidade do Colorado em Boulder, explicou o mecanismo: «Quando o gelo marinho é extenso, ele isola o oceano da atmosfera, retardando a troca de calor. Mas durante períodos de perda rápida de gelo, como os observados nas últimas décadas, o oceano exposto absorve mais calor do ar, levando a um aquecimento mais rápido».
A pesquisa, publicada na revista Nature Climate Change em outubro de 2023, utilizou modelagem avançada para confirmar esse poder preditivo. Por exemplo, o gelo marinho recorde baixo em 2016 precedeu um pico nas taxas de aquecimento oceânico no ano seguinte. Esse padrão tem sido consistente, com anomalias de gelo marinho explicando até 70% da variabilidade nas mudanças anuais no conteúdo de calor oceânico.
O contexto de fundo sublinha a urgência: o gelo marinho antártico declinou cerca de 12% por década desde 1979, de acordo com dados da NASA integrados ao estudo. Essa perda agrava a elevação do nível do mar global e perturba ecossistemas marinhos, pois águas mais quentes afetam populações de krill e cadeias alimentares mais amplas.
As implicações se estendem à política climática e modelagem. Previsões tradicionais frequentemente ignoram esses feedbacks gelo-oceano, potencialmente subestimando o aquecimento futuro. «Incorporar previsões de gelo marinho poderia refinar projeções para eventos como ondas de calor marinhas», observou Lovenduski. No entanto, o estudo alerta que o derretimento contínuo do gelo pode enfraquecer esse sinal ao longo do tempo se limiares forem cruzados.
Perspectivas equilibradas dos coautores enfatizam oportunidades e desafios. Embora o preditor melhore o monitoramento oceânico de curto prazo, as tendências de longo prazo continuam influenciadas por fatores mais amplos, como emissões de gases de efeito estufa. A pesquisa pede observação contínua para validar o elo em meio a mudanças polares aceleradas.