Bactérias em tumores produzem molécula para impulsionar quimioterapia contra o câncer
Cientistas identificaram uma molécula produzida por bactérias dentro de tumores que aumenta a eficácia da quimioterapia contra o câncer colorretal. O composto, 2-metilisocitrato, danifica o DNA das células cancerosas e perturba seu metabolismo. Essa descoberta pode levar a novos tratamentos que tornam os medicamentos existentes mais potentes.
Uma equipe internacional liderada por pesquisadores do MRC Laboratory of Medical Sciences em Londres, Imperial College London e Universidade de Colônia descobriu como bactérias associadas a tumores influenciam a progressão do câncer. Publicado online em Cell Systems em 10 de setembro de 2025, o estudo revela que esses micróbios produzem 2-metilisocitrato (2-MiCit), um metabólito que sinergiza com o medicamento de quimioterapia 5-fluorouracila (5-FU).
Os pesquisadores examinaram mais de 1.100 condições usando o verme C. elegans e descobriram que bactérias E. coli geram 2-MiCit, o que melhora o impacto do 5-FU. Modelagem computacional confirmou que microbiomas de tumores de pacientes também produzem essa molécula. Validação adicional em células de câncer colorretal humano e um modelo de mosca mostrou os efeitos anticâncer do 2-MiCit, incluindo sobrevivência prolongada em moscas.
O Professor Filipe Cabreiro, chefe do grupo de Co-Metabolismo Hospedeiro-Microbio no LMS, explicou: "Sabíamos que bactérias estão associadas a tumores, e agora estamos começando a entender a conversa química que elas têm com as células cancerosas. Encontramos que uma dessas substâncias químicas bacterianas pode atuar como um parceiro poderoso para a quimioterapia, perturbando o metabolismo das células cancerosas e tornando-as mais vulneráveis ao medicamento."
A molécula inibe uma enzima mitocondrial chave, causando dano ao DNA e ativando vias que desaceleram o crescimento do câncer. Combinada com 5-FU, ela mata células cancerosas de forma mais eficaz do que qualquer uma sozinha. O Dr. Daniel Martinez-Martinez, primeiro autor do estudo, observou: "Micróbios são uma parte essencial de nós. Que uma única molécula possa exercer um impacto tão profundo na progressão do câncer é verdadeiramente notável, e mais uma evidência de quão complexa a biologia pode ser quando considerada de uma perspectiva holística."
Colaboradores modificaram o 2-MiCit em uma versão sintética mais potente, destacando o potencial para medicamentos inspirados em micróbios. Financiado pela Leverhulme Trust, Wellcome Trust/Royal Society, DFG e Medical Research Council, o trabalho ressalta o papel do microbioma tumoral na medicina personalizada.