Cientistas usaram CRISPR para editar um único gene em porcos, tornando-os totalmente resistentes à peste suína clássica, uma doença contagiosa que devasta o gado. Esse avanço pode melhorar o bem-estar animal, aumentar a produtividade e reduzir emissões. A mesma edição pode proteger bovinos e ovinos de vírus relacionados.
A peste suína clássica, uma doença viral altamente contagiosa, causa febres, diarreia, abortos e alta mortalidade em porcos, impactando severamente os agricultores em todo o mundo. A doença foi eliminada em muitas regiões, mas reaparece periodicamente; por exemplo, seis milhões de porcos foram abatidos na Holanda em 1997 para conter um surto, e o Japão tem lutado para erradicá-la desde 2018. Em áreas onde persiste, vacinas vivas são usadas, mas elas são trabalhosas, caras e impedem exportações para países livres da doença. Uma interrupção recente nos esforços de vacinação levou a um surto nas Filipinas.
Pesquisadores da Universidade de Edimburgo, liderados por Christine Tait-Burkard, identificaram a vulnerabilidade do vírus: ele depende de uma proteína suína chamada DNAJC14 para processar suas proteínas. Ao usar CRISPR para alterar um único aminoácido nessa proteína, eles criaram porcos que bloqueiam a replicação viral. Em testes em uma instalação segura gerenciada pela Agência de Saúde Animal e Vegetal do Reino Unido, porcos editados expostos ao vírus vivo via spray nasal não mostraram sintomas, anticorpos ou vírus detectável, permanecendo saudáveis durante todo o estudo. Em contraste, porcos não editados adoeceram.
"Esses animais foram completamente resistentes à replicação do vírus e permaneceram felizes e saudáveis durante todo o estudo," diz Helen Crooke na agência. O trabalho, parcialmente financiado pela empresa de criação Genus, sugere benefícios para a produção sustentável. "Isso ajudaria na produção de gado sustentável, e com porcos saudáveis e felizes," acrescenta Crooke. A adoção generalizada poderia reduzir emissões de gases de efeito estufa e preços de alimentos.
A Genus, que comercializou porcos editados geneticamente resistentes à síndrome reprodutiva e respiratória suína —aprovada nos EUA e no Brasil— está considerando essa nova edição. As paisagens regulatórias variam: muitos países tratam edições pequenas e semelhantes à natural com leniência, com o Japão aprovando três peixes editados geneticamente. A Inglaterra planeja aprovar plantas editadas geneticamente em breve e está finalizando regras para gado, enfatizando o bem-estar. Nenhum efeito adverso foi observado nos porcos editados, embora estudos adicionais sejam necessários, diz o membro da equipe Simon Lillico. "Um campo de jogo nivelado seria ótimo," ele observa, destacando questões de bem-estar em animais criados convencionalmente.
A equipe agora está testando se a edição funciona contra vírus relacionados que causam diarreia viral bovina em bovinos e doença de fronteira em ovinos, que afetam o bem-estar e a produtividade apesar de serem menos letais.