Na América rural, a escassez de médicos agrava a disseminação de desinformação em saúde, tensionando as relações médico-paciente. A oncologista Dra. Banu Symington, em Wyoming, descreve encontros hostis com pacientes desconfiados de vacinas e ciência. Especialistas alertam que esses desafios estão encurtando as expectativas de vida em áreas subatendidas.
A Dra. Banu Symington pratica oncologia em Rock Springs, Wyoming, há 30 anos, atraída inicialmente pelas vastas paisagens da área e pelo respeito da comunidade pelos médicos. Hoje, como uma das cinco oncologistas em tempo integral no estado, ela gerencia o único centro de câncer na região sudoeste, com a alternativa mais próxima a três horas de carro em Utah. No entanto, as interações com pacientes azedaram em meio ao aumento da desinformação e da divisividade política.
Symington relata que pacientes a xingam por recomendar máscaras ou vacinas durante a quimioterapia. O marido de uma paciente a chamou de "uma vadia liberal" por sugerir o uso de máscaras. Em uma feira do condado local, ela ofereceu protetor solar gratuito, mas enfrentou rejeição; uma mulher alegou que os médicos adicionam substâncias cancerígenas para enriquecerem-se. Pacientes a rotularam como "prostituta da indústria farmacêutica" na cara. Um ex-paciente de leucemia, outrora amigável e compartilhando hobbies como caça a pedras, recusou a vacinação, morreu de COVID-19 e acreditava que a doença era uma fabricação política.
A desinformação se estende a tratamentos como a ivermectina, um medicamento antiparasitário promovido pelo ator Mel Gibson no podcast de Joe Rogan. Symington observa que pacientes que o tomam secretamente acabam na unidade de terapia intensiva por complicações. Ela teme se aposentar aos 65 anos mais cedo do que o planejado devido ao ambiente hostil, duvidando de que seja possível recrutar um substituto.
Alan Morgan, CEO da Associação Nacional de Saúde Rural, liga a escassez aguda de médicos —menos de 5% dos médicos de origens rurais— à queda na expectativa de vida. Ele enfatiza o papel dos clínicos locais em combater falsidades online com ciência confiável. As políticas de imigração sob a administração Trump reduziram médicos nascidos no exterior, que representam metade da força de trabalho em oncologia, tornando o recrutamento rural mais difícil. Há trinta anos, Rock Springs tinha médicos imigrantes canadenses; agora, nenhum permanece.
Em Fredonia, Kansas, a Dra. Jennifer Bacani McKenney, nascida de imigrantes filipinos recrutados lá nos anos 1970, enfrenta racismo disfarçado de ceticismo em relação à COVID-19. Pacientes a chamaram de "gripe chinesa" ou "gripe kung" na cara, depois a isentaram como local. Como decana associada na Universidade de Kansas, ela aborda preocupações de segurança de estudantes de medicina durante rotações rurais, onde piadas racistas ocorrem. Ela adapta discussões sobre vacinas, começando com as familiares como tétano para construir confiança, em meio ao papel de Robert F. Kennedy Jr. como secretário de Saúde e Serviços Humanos amplificando visões não suportadas.
Bacani McKenney enfatiza persistir nas conversas: "Se eu não tiver essas conversas, não estou fazendo meu trabalho." Rock Springs, com uma população de cerca de 23.000 segundo o censo de 2020, exemplifica essas lutas mais amplas de saúde rural.