Cientistas descobrem circuito cerebral que anula dor crônica
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia identificaram um grupo de neurônios do tronco encefálico que podem suprimir sinais de dor crônica quando surgem necessidades de sobrevivência como fome ou medo. Esses neurônios receptores Y1 no núcleo parabraquial lateral atuam como um quadro de comutação neural, priorizando demandas biológicas urgentes sobre desconforto persistente. A descoberta, publicada na Nature, oferece potenciais novas vias para tratamentos de dor.
A dor crônica afeta cerca de 50 milhões de pessoas nos Estados Unidos, persistindo muito após as lesões curarem como uma entrada cerebral sensibilizada. J. Nicholas Betley, neurocientista da Universidade da Pensilvânia, explica: "Não é apenas uma lesão que não cura... é uma entrada cerebral que se tornou sensibilizada e hiperativa, e determinar como acalmar essa entrada poderia levar a melhores tratamentos."
A equipe de Betley, colaborando com pesquisadores da Universidade de Pittsburgh e do Scripps Research Institute, focou em neurônios que expressam o receptor Y1 (Y1R) no núcleo parabraquial lateral (lPBN). Usando imagem de cálcio em modelos animais, eles observaram que esses neurônios exibem atividade 'tônica' constante durante dor prolongada, ao contrário de respostas breves à dor aguda.
A pesquisa surgiu de uma observação de 2015 de que a fome reduz a dor crônica. Betley observou: "Pela minha própria experiência, senti que quando você está realmente com fome, fará quase qualquer coisa para conseguir comida... a fome parecia ser mais poderosa que o Advil para reduzir a dor." A ex-aluna de pós-graduação Nitsan Goldstein estendeu isso, descobrindo que a sede e o medo também suprimem a dor. Eles identificaram o neuropeptídeo Y (NPY) como chave: quando ameaças de sobrevivência são ativadas, o NPY se liga aos receptores Y1, atenuando os sinais de dor.
Goldstein descreveu como: "É como se o cérebro tivesse esse interruptor de anulação embutido... Neurônios ativados por essas outras ameaças liberam NPY, e o NPY acalma o sinal de dor para que outras necessidades de sobrevivência tenham precedência."
Os neurônios Y1R estão espalhados por vários tipos de células no lPBN, potencialmente permitindo controle amplo sobre entradas de dor. Essa distribuição em mosaico, Betley comparou a "tinta amarela distribuída em carros vermelhos, carros azuis e carros verdes."
Os achados sugerem que mirar nesses neurônios poderia servir como biomarcador para dor crônica, mudando o foco de locais de lesão para circuitos cerebrais. Betley acrescentou: "O que estamos mostrando é que o problema pode não estar nos nervos no local da lesão, mas no circuito cerebral em si. Se pudermos mirar nesses neurônios, isso abre um caminho completamente novo para o tratamento."
Intervenções comportamentais como exercício e meditação também podem modular esse circuito flexível, além de abordagens farmacêuticas. O estudo aparece na Nature (2025; DOI: 10.1038/s41586-025-09602-x).